Sala de Estar

             Just keep breathin'!

Todas as minhas roupas estavam jogadas pela sala.
Estive trabalhando igual uma louca nesses seis meses pós-prêmio de Bruxa Destaque do Ano, a maioria das vezes em missões com Tiago, o que era muito bom. Os outros aurores diziam que nos completávamos: eu era mais "planos", ele era mais "ação". Eu era mais "feitiços", ele era mais "corpo a corpo"... Nós ignorávamos esses comentários e víamos o trabalho se multiplicar a medida que finalizávamos coisas com sucesso. Mas todos estavam certos e não bastava a fortuna que estávamos fazendo atualmente, eu precisava melhorar nesse negócio de lutar. Mano a mano. E era isso o que eu estava fazendo em Miami, num dia chuvoso de fim de semana, depois de uma reunião interminável com Lissa Oloked (minha chefe ainda, bem mais calma depois de ter colocado Draco Malfoy atrás das grades e dos beijos de Dementadores, em Azkaban) - da qual Tiago só escapou porque foi chamado à sala do Ministro (Teddy Remo Lupin ainda, trabalhando discretamente um pouco menos que nos tempos difíceis, rumores que rolavam diziam que seu casamento não ia bem). Tiago estava me dando aulas de luta. E ele até que era um bom professor, ou talvez só gostasse que conseguia sempre ganhar de mim. Sim, porque eu não deixava ele pegar leve, nossos treinos eram pesados, para valer, e já estavam acontecendo em todos os nossos fins de semana livres, a mais de três meses. Evitávamos usar facas e coisas assim, porque isso podia realmente machucar e nosso passado com esse tipo de instrumento não era tão favorável. Eu tinha algumas marcas pelo corpo, mas as lutas estavam me deixando mais forte. Talvez Tiago só estivesse aceitando isso porque achasse sexy toda a situação. Enfim. Era mesmo.
Sabia que o Potter seria liberado mais cedo do escritório do Ministro que eu da reunião de análises de casos do mês com a chefe, então lhe pedi um simples favor e, agora, estava olhando para os resultados do pedido. Ele só tinha que ter trazido minha mochila Louis Vuitton, com tudo que eu precisava para passar o fim de semana na casa dele, e ter jogado em algum lugar. Mas se fosse simples, não seria Tiago, não é mesmo? Ele havia aberto a mochila, tirado peça por peça de roupa e espalhado por toda sala. A mulher que cuidava da casa para meu namorado veio até mim com cara de quem se desculpava: "Srta. Bella, eu tentei arrumar tudo, mas o Sr. Tiago não deixou. Disse que você precisava achar a peça que faltava. E saiu para surfar, mesmo com esse tempo!". Olhei para as janelas do chão ao teto e vi que uma tempestade feia estava para se formar. Adeus praia nesse fim de semana acho, mas sei que é geralmente antes da chuva que se formam as maiores ondas. Vou até a estante e pego o binóculos que Tiago deixava ao lado do seu troféu de Bruxo do Ano, junto de um porta-retrato com uma foto nossa que eu descobri que ele havia guardado do primeiro namoro (aquela de nós dois na frente da Torre Eiffel, tinha virado minha foto favorita também). Viro para a praia e consigo distinguir um homem surfando melhor e mais gato que os demais, aproveitando as melhores ondas... Suspiro, virando para a bagunça da sala novamente. Ia tentar acabar com ele no treino de hoje.
Ele queria brincar? Ok, então, vamos ver o que está faltando aqui. Uma olhada rápida nas roupas me fez perceber que ele tinha sumido com todas as minhas blusas e calças, deixando só os biquinis e os shorts. Sorrio, enquanto vou colocando as peças de volta na mochila. Tenho certeza que ele tinha visto a previsão do tempo e sabia que eu ia precisar de blusas. Acho que queria era me ver só de biquini o fim de semana inteiro. Desgraçado. Estava frio já! Vou recolhendo tudo até que... Uma pasta preta. Jogada em cima da mesa, e só de olhar sei que é uma daquelas que usamos no Ministério para manter os perfis de pessoas suspeitas. Fico curiosa e abro a pasta, esquecendo um pouco da malandragem de Tiago. O que eu vejo, ou melhor, quem me deixa sem ar.
Preciso de um copo de água!
Grito para a mulher, vivo esquecendo o nome dela. Ao contrário, a mulher das fotos na pasta vive passando pelos meus pensamentos. Alice. Ali há várias fotos de câmeras de segurança, pixereladas, e também umas muito boas, dela. Atualmente. O Ministério está vigiando-a. Passo pelas fotos e também pelo resumo de pessoa, que diz coisas como a última vez que ela foi vista por alguém de sua família, além de trabalhos que realizou e tudo mais. Quer dizer, a parte dos trabalhos me chama atenção: além de seu tempo no Profeta Diário, está registrado ali um bar conhecido inglês (que eu não posso acreditar que seja verdade, não dá para imaginar minha amiga Alice trabalhando num bar) e o trabalho atual. Assistente pessoal de Draco Malfoy. Ah, não.
Minha água chega e a mulher parece preocupada: "Srta. Bella, vocês está bem? Parece muito pálida. Quer que eu chame o Sr. Tiago?". Não, eu não quero que ela chame Tiago. Até porque já entendi o que ele fez. Provavelmente foi para isso que foi chamado no escritório do Ministro hoje e certamente se trata de uma investigação especial, que exclui todos os aurores que já tiveram um contato próximo com a investigada. O que exclui a mãe de Alice, Lissa Oloked, minha chefe, e também me exclui. Tiago estava burlando as regras ao me mostrar isso, por isso tinha feito como se não estivesse me mostrando, mas sim como se eu tivesse achado. O que limpava a barra dele. Era muito esperto. Viro a água toda de uma vez só e peço para que ela me prepare um Martini.
Sento no sofá e leio suspeitas de conspiração comensal, negócios no mercado negro e também fraudes fiscais no Mundo Trouxa. Parece que Draco Malfoy ia apodrecer em Azkaban se fosse realmente culpado por tudo que estava escrito aqui. E, ao ir trabalhar com ele, Alice se tornava cúmplice de tudo, pois é impossível que não soubesse com o que estava lidando e o quão errado era. Ela deveria tê-lo denunciado logo no início. Na última página do processo há indicações de uma invasão de aurores há Mansão Malfoy, onde aparentemente ela estava escondida, para levá-la sobre custódia, a julgamento. Onde ela seria culpada sem dúvida, pois parece que o Malfoy andava mandando cartas escondidas da prisão, que eram interceptadas por aurores e depois liberadas. Eram endereçadas à sua Mansão e à alguém identificado como "A". Podia se tratar de Astoria, esposa de Draco, mas pesquisas do Ministério relatavam que ela havia saído da Mansão assim que o marido fora preso, e atualmente estava viajando pelo mundo, então não havia possibilidade de se comunicar com ele. E as cartas continham ordens expressas de negócios, transferências de dinheiro e comunicações com outros bruxos que o Ministério sabia serem Comensais.
Resumindo, Alice estava ferrada e, segundo os registros, seria levada amanhã da Mansão, diretamente para Azkaban, enquanto esperava o julgamento. Respiro fundo e tomo o que sobrara do Martini na taça. Essa não era a minha melhor amiga. Fecho a pasta e olho para a janela, onde a chuva já caia solta. Logo logo Tiago estaria em casa. Logo logo minha amiga estaria presa. Então reparo que uma foto caiu do arquivo enquanto eu lia: é claramente uma imagem capturada escondida, Alice está de óculos escuros e parece preocupada, mas o que chama a atenção é o bebê. Pelas roupinhas é um menino. E ela está apertando-o junto ao peito. Ah, a criança. Havia nascido então, e parecia lindo...
Levanto, sabendo o que eu iria fazer. Sabendo que isso poderia me custar muito mais do que uma noite de sono perdida, ou aulas de luta adiadas com Tiago. Deixo o arquivo ali e desaparato para o único lugar possível.

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