Fachada

             Just keep breathin'!

Eu estava tremendo quando desaparatei, e duvido muito que fosse de frio. Tinha mentalizado aquela casa escura e terrível que víamos nos livros de História da Magia em Beauxbatons, aquela que tinha servido como QG dos Comensais e do próprio Lord das Trevas na Grande Guerra. Agora, do fim da rua, eu olhava para uma versão mais moderna da Mansão Malfoy, bem iluminada apesar da noite avançada.
No fim, penso que foi bom não ter parado bem na entrada da casa, afinal tinha certeza que o Ministério ainda estava mantendo um forte esquema de vigilância na região e, mesmo a uns 200 metros, eu estava com risco de ser vista. Procuro na bolsa meus óculos de sol, desnecessários para essa noite escura - mas bem convenientes como disfarce e começo a descer a rua. Minhas botas fazem barulho na calçada, mas uma examinada rápida ao redor me diz que não há ninguém ali para se incomodar com isso. Exceto talvez aquele homem claramente bêbado vindo pela mesma calçada que eu, na direção inversa. Ele ainda não me viu e tento sondar seus modos, adivinhando se é ou não um auror disfarçado. Não é. Só muito bêbado mesmo. Não consegue andar em linha reta e... está usando um casaco com capuz. Ah, preciso daquele casaco.
Pego a varinha da manga e me escondo atrás de uma árvore do jardim de outra casa por ali. Espero que o bêbado cambaleie, passando por mim e sussurro:
Petrificus Totalus!
Ele cai no chão e o arrasto, sem fazer muito alarde, até a árvore em que eu estava. Tiro seu casaco, que está fedendo e parece muito comprado em uma loja de departamento (daquelas que expõe roupas ao lado das panelas) e visto, jurando para mim mesma que vou jogar toda a roupa que eu estou usando fora quando chegar em casa. Mesmo com algum tempo de Ministério e várias missões como aurora, continuo dando valor a coisas que importam na vida: por exemplo, moda - agora que realmente ganho um salário bom, e que tenho um namorado que ganha o mesmo salário bom, posso torar muitos dinheiros trouxas na Rodeo Drive. Minhas roupas de trabalho estavam bem mais comportadas e caras ultimamente. Antes de sair, lanço um feitiço de esquecimento no homem e coloco o capuz da jaqueta, escondendo todo o meu cabelo.
Volto a descer a rua e então finalmente chego ao portão da mansão. Ele é enorme, para combinar com toda a casa, que é de uma opulência impressionante. Olho para um lado e para o outro, mas não vejo ninguém e nem uma campainha ou algo assim. Espero alguns minutos, agora já tremendo um pouco menos, mas ainda preocupada com a possibilidade de estar sendo vigiada. Quando estou pensando em desistir, provavelmente todos os empregados estão dormindo, nem sei que horas são, mas parece madrugada, aparece alguém. Um homem sai das árvores ali perto e está impecavelmente vestido como um mordomo, talvez porque seja mesmo.
"Boa noite, senhorita. O que deseja?"
Gostaria de falar com Alice. Sou uma amiga.
"Claro. Nome?"
Percebo que ele nem acha estranho o fato de que uma garota usando um casaco masculino, de óculos de sol, no meio da madrugada, estar aqui. Aposto que já atendeu muitos visitantes estranhos ao longo do tempo de trabalha para os Malfoy. Bom, se tudo que tinha naquele arquivo na casa de Tiago fosse verdade, Draco em si já era um cara bem estranho. Penso então em Scorpius e no tempo em que namorou com Lílian Potter, isso foi uma reviravolta e tanto no Mundo Bruxo. Então sem explicação eles terminaram e, por um momento, achei que Scorpius fosse traçar o caminho do pai - que ninguém sabe muito bem qual é, só se sabe que não é bom, mas nunca mais se ouviu falar dele. Nem coisas boas, nem ruins. Onde será que anda esse garoto? Será que já saiu de Hogwarts?
Isabella... Bella Lourousen.
Digo, sussurrando, depois de um momento de hesitação. O mordomo assente e dá meia volta, dessa vez indo em direção à porta principal da Mansão. Consigo ouvir e sentir cada batida do meu coração enquanto ele não volta nem nada acontece. Então o portão se abre, e o homem está ao meu lado novamente, me guiando para uma entrada lateral na grande casa. Passamos no jardim por uma casa menor, que presumo ser a dos empregados - uma propriedade dessa grandeza deve exigir muitos deles - de onde, provavelmente o mordomo havia saído antes.
Mantenho a cabeça baixa e só sigo o homem, se falar. Sinto um cheiro bom e, passando por uma porta, me vejo em outro ambiente.

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