Arco do Triunfo

Não sei se é porque é Paris, toda aquela baboseira de ''cidade do amor'' e tudo o mais. Não sei se é porque eu bebi um pouco com os caras, depois do treino. Na verdade, acho que o maior culpado de tudo isso é o meu celular e seus lembretes de meia em meia hora. Tentei desligá-los, mas não consegui. ''É hoje!'', ''Compre algo legal para ela!'', ''Leve-a para jantar!'', ''Não esqueça do presente!''. Que saco.
A senhora na minha frente pede para mim aguardar um pouco enquanto ela ajeita o que comprei. Olho para o Arco do Triunfo atrás de mim,  quando o celular apita de novo: ''O presente, Jon!''.
Estou comprando, droga.
Digo, para ninguém em especial. A senhora volta com o buquê, com todos os tipos de flores e cores, eu pago e deixo a barraquinha de flores para trás.
Há exato um ano eu estava no mesmo lugar, comprando um buquê um pouco mais simples. Ela estava conversando com alguém que havia encontrado e tomei uma atitude sem pensar. Estávamos saindo há alguns meses, mas não éramos oficialmente namorados, e achei que estava na hora disso mudar. Fui até aquela mesma senhora e escolhi algo que combinasse com os olhos dela, já que Bella tinha dito que isso era importante. Quando voltei até ela, estava me procurando. Então a pedi em namoro. Nunca gostei de alianças e achava joias um presente formal demais. E acho que só tinha dinheiro para as flores na época, mesmo. Mas ela gostou bastante, e foi isso que importou. Naquele dia, ela pegou meu celular e colocou vários lembretes para que me lembrasse dessa data no próximo ano. Não lembraria mesmo, se não fossem por eles. Tinha achado divertido na hora.
Agora, aquilo tinha passado o dia todo me incomodando. Mesmo assim, quando meu celular apitou pela primeira vez, de manhã cedo, decidi que faria alguma coisa. Para ninguém em especial, só para marcar a data. Acho que nunca fiquei tanto tempo com a mesma garota. Então voltei ali e comprei as flores. Sentei na grama ali perto e fiquei olhando o movimento. Algumas pessoas olhavam curiosas para o buquê e eu as ignorava. Até que vi quando ela chegou.
Dominique parou por ali também e se sentou. Fiquei observando-a de longe. Estava linda como sempre, simples, loira, perfeita. Fico pensando no que faríamos hoje se não estivéssemos dando um tempo. Eu teria seguido todos aqueles lembretes, afinal, ela os fizera. Eu ligaria, mandaria flores, levaria-a para jantar, compraria um presente, passaríamos a noite juntos. Em vez disso, só comprei as flores. E vendo-a aqui, nesse momento, não sei se vou entregá-las. Não sei se iria entregar antes, de qualquer jeito, acho que só deixaria elas ali, na grama, para morrerem.
Era o pôr do sol e assisti por um momento, antes de me levantar, pegar o buquê e caminhar até ela. Outra atitude impensada.
Oi.
Digo, sentando ao seu lado. Não entrego as flores, fico com elas na mão por um momento e então as coloco de lado. Um silêncio se instala entre nós e fico lembrando das últimas vezes em que a vi. Na casa do namorado de Bella, quando ela foi muito grossa comigo. No hospital, no dia em que cai jogando Quadribol, quando tínhamos decidido dar um tempo... Naquele dia, havia doido ficar ao lado dela e não tocá-la, hoje estava mais suportável. Lembro que dei um beijo nela, porque não aguentava mais. Eu a beijaria hoje?

Dominique Delacour estava novamente ao meu lado, depois de tanto tempo, mas não respondeu ao meu ''oi''. Ficamos sentados um ao lado do outro por um bom tempo. Ouvimos as pessoas passarem, vimos algumas sorrirem para nós, ao olharem para o buquê, sentimos seus olhos fixados em nós. Ignoramos todas elas. Meu celular parou com seus lembretes, provavelmente atendendo aos meus apelos mentais. Ele deve ter achado que, neste momento, ela estaria comigo. E não queria atrapalhar.
Assistimos a todo o pôr-do-sol e, quando já haviam estrelas no céu, decidi que não. Não a beijaria hoje. E provavelmente nunca mais.
Ela tinha sido uma parte importante da minha vida, eu provavelmente ainda sentia algo pela loira ao meu lado, mas era passado. Estávamos já em fases diferentes. Seguindo sozinhos para uma vida totalmente nova e cheia de possibilidades. Porque somos jovens e ainda tem muita coisa para acontecer com cada um de nós.
Levanto, pego o buquê e entrego para ela.
Feliz primeiro e último ano, Domi.
Não falei aquilo com maldade, mas também não acrescentei um ''eu te amo''. Embora estivesse ali, na ponta da língua. Sei que haveriam mais garotas, mas nenhuma seria igual a ela. Também não a beijei, embora a vontade também estivesse ali. Acho que ambos ficaríamos com a lembrança daquele último beijo no hospital.
Aquela não seria a última vez que a veria e, claro, muita coisa poderia acontecer.
Virei as costas e saí andando, nem esperei para ver sua reação com o buquê.
Nunca um fim de namoro tinha doído tanto.