Quarto Granphibell

Chego desesperada aqui e uma moça me ajuda. Ela é enfermeira, coloca Luke em uma maca e leva ele para dentro de uma sala. Não me deixa ir junto e me leva para um quarto, reservado para Luke. É uma surpresa para mim saber que ele tem um quarto aqui, mas quase todas as famílias do mundo bruxo têm, inclusive a minha, embora eu nunca tivesse passado por ali.
O quarto da família Granphibell era simples, mas confortável. Porém, não prestei muita atenção em nenhum detalhe. Não sentei e fiquei andando de um lado para o outro, até Luke vir para o quarto, ainda desacordado, mas a enfermeira garantiu que ele iria se recuperar bem, só precisava de um tempo. Sento em uma cadeira ao lado da cama dele e seguro sua mão, pensando no que ele tinha feito.
É muito perigoso. Não imaginava o quão perigoso pode ser amar alguém... Eu não suportaria se algo pior tivesse acontecido com ele. Ele podia ter se machucado bem mais! Ele poderia ter... Não. Não dá para continuar assim... Alguém tem que tomar alguma atitude. Eu não viveria mais se algo acontecesse com ele.
Solto sua mão e pego um pergaminho, uma pena e um tinteiro, de uma gaveta por ali. Começo uma carta:

Carta para Luke:

As lágrimas caíam rápidas, e cada uma doía. Doía por dentro. Algumas mancharam o papel e a tinta ficou manchada. Coloquei a carta de lado e chorei em silêncio, olhando ele.

Minha mãe aparece por ali. Diz que ele vai ficar bem, fez um ato heróico, um verdadeiro ato de amor. Choro ainda mais, abraçando ela.
Eu sei... Mas ele podia ter morrido, mãe. Por causa de mim! Para me salvar! Eu não iria suportar isso... Não posso ver ele nesse estado sem pensar que estaria bem melhor se não tivesse sido atingido na vez em que a maldição era para mim também!
Deixo as lágrimas caírem. Quando eu não chorava, passava semanas, até meses, sem chorar. Mas quando chorava, acontecia duas vezes no mesmo dia.
Amar dói tanto assim?

A explicação que ela me dá parece perfeita. Quando responde minha pergunta, diz que amar dói sim, mas também nos faz a pessoa mais faliz do mundo. Eu tinha consciência disso. Limpei as lágrimas, com um lencinho que achei no fundo da minha bolsa, e parei para pensar. Eu não queria, de jeito nenhum, terminar com Luke. Como minha mãe havia dito, tantas vezes em sorri e fui feliz com ele! Jogar tudo fora, assim?
Mas outra coisa que minha mãe disse: que apartir do momento que amamos, passamos a não nos preocuparmos só com nós mesmos, mas também com a pessoa amada. Muito. E eu também não queria, de jeito nenhum, que Lu sofresse.
Eu já havia decidido, mas uma coisa me veio em mente:
Mãe! Stevie! Ela ainda está na praia! Vou buscá-la! Depois precisamos conversar sobre ela, tem uma coisa errada.
Preparo-me para sair e vejo a carta. Seguro-a nas mãos e entrego para minha mãe.
Dê para Luke, quando ele acordar, está bem? E diga pra ele que eu o amo muito. Por favor.
Eu ia começar a chorar de novo. Parecia a coisa mais certa a se fazer e, ao mesmo tempo, tão errada! Abraço minha mãe, forte.
Obrigada por tudo, mãe. Eu te amo. E você vai achar algum cara bem legal, ainda. Eu troço por isso.
Digo, sorrindo e, para não chorar mais uma vez, saio do quarto sem olhar para Lu.

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