Quarto de Alice

NUNCA mais saio para fazer compras com a Bella. Ela é uma péssima compania para isso e faz você comprar TUDO. Entramos em todas as lojas de uma rua em Los Angeles. Lojas caras. E eu nunca comprei tanta coisa assim.
Volto para a casa e tento separar tudo, pelo menos tinha conseguido comprar o vestido para o casamento... E mais 10!
Vejo o convite em cima da cama e olho o horário. Tenho pouco tempo... Eu vou matar a Bella!
Me arrumo em 15 minutos, boto um casaco por cima e vou para a casa de Vic, levando o presente. O meu e o da Bella, que tinha vindo junto com minhas 9 bolsas de compras!

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Eu não tinha palavras para expressar o quanto estava arrependida.
Arrependida de ter terminado com ele. Arrependida de ter aceitado o primeor convite de Bella. Arrependida de ter saído para balada naquela primeira noite. Arrependida de ter bebido todas. Arrependida de ter achado que essa era a melhor maneira para esquecer os problemas. Arrependida de ter mudado meu estilo de agir e vestir. Arrependida de tudo.
Agora, deitada na cama, eu esperava os minutos que poderiam mudar a minha vida. Sentia um cheiro de cupcakes recém-assados vindo da cozinha, algo que eu teria adorado algumas semanas atrás, mas que hoje só me deixava enjoada. Estava lembrando do dia em que terminei com Luke, da expressão dele, de dor, da minha expressão, vazia, que escondia todos os meus sentimentos. Queria ter pedido desculpas, voltado atrás na hora, dito que era tudo mentira, que o amava, mas tinha medo de que a cena do casamento se repetisse, que ele quase morresse por minha causa.
Faço as contas pela milésima vez, com a ajuda de um calendário, só para confirmar o que eu já sabia. Atrasada. Tomo coragem e viro para olhar o teste de gravidez que tinha comprado em uma farmácia qualquer. Positivo.
Congelo, sem saber o que fazer. Deixo o teste cair da minha mão, direto para o chão, e me deito novamente, devagar, fitando o teto. Minhas mãos pousaram sobre minha barriga, em um gesto automático. Meus pensamentos estavam longe. Eu tentava imaginar o que cada um falaria e pensaria de mim: minha mãe ia ficar arrasada, ela tinha avisado tanto, talvez me expulsasse de casa. Minha irmã, na fase em que está, provavelmente riria da minha cara. Minhas amigas teriam pena de mim e começariam e prestar mais atenção em mim do que eu jamais gostaria. E Luke... Eu não tenho nem ideia do que ele faria. Acho que ficaria muito irritado comigo. Com razão. No momento, até eu queria me matar. Mas, de todos, eu só me importava com a reação dela. Eu tinha acabado com as últimas chances de uma possível reconciliação futura. Porque eu o amo mais que tudo e não quero vê-lo sofrer, irritar-se ou desapontar-se comigo.
Pensar em tudo isso me faz começar a chorar. Muito e compulsivamente. Pego rápido o celular e mando uma mensagem para Bella.

SMS para Bella:

Largo o celular e cubro a cabeça com o travesseiro, para abafar o choro.

Bella chega o que parecem ser horas depois. Ela vem trazendo uma bandeja de cupcakes, nem preciso olhar para saber. é só sentir o cheiro, que me deixa terrivelmente enjoada. Tento explicar o que está acontecendo, mas não consigo para de chorar. Escuto ela perguntar baixinho o que eu fiz.
Acabei com a minha vida.
Fiz algo que metade do mundo sabe que é errado, mas faz mesmo assim. E as consequências dos atos não acontecem com todos. Parece que fui premiada.
Bella tenta soar confiante, pede para mim parar de chorar, embora ela tenha chorado comigo, minutos atrás. Pergunta se quero conversar. Se eu conseguisse falar algo, até iria querer. Ficamos paradas lado a lado, ela ainda me abraçando. Encosto a cabeça no ombro dela e respiro fundo alguma vezes. Inspirar. Expirar. Porque parece tão difícil? Tomo coragem e sussurro as primeiras palavras:
Acho que já faz uma semana.
Eu tinha vergonha, agora, de admitir, mas tinha dormido com vários caras. A culpa não era de ninguém além de mim. Eu tinha decidido assim, tinha tentado me animar desse jeito. O jeito errado. Agora dava para ver claramente. Para sentir. Decido falar para ela o que mais está me incomodando:
Luke vai pensar que sou uma piriguete. Foi o que eu me tornei essa semana.
Inspirar. Expirar. Tento me acalmar, mas as lágrimas não param de cair. Lentamente. Num choro digno de novela.
Não era eu, Bella. Eu só queria... Queria que Luke ouvisse que eu estava saindo todas as noites. Que estava feliz. E queria que ele me esquecesse. Só que sempre foi uma felicidade falsa.
Ela sabia o motivo real de eu ter terminado com Luke e havia tentado me animar naquela noite. A primeira noite daquela semana de bebedeiras, festas e horror.
Ele não vai me perdoar nunca. Minha mãe também não.
A verdade nessas palavras me atinge em cheio e tenho uma nova crise de choro, abraçada a Bella.

Bella sai e volta, dizendo que falou com Luke. E que ele não é mais o mesmo. Choro ainda mais. Não consigo acreditar na capacidade que as pessoas têm de mudar tanto em uma semana. Eu me tornei um lixo e...
Como ele está? Luke. Como ele parece estar?
Parecer e estar são coisas diferentes. Consigo esconder bem como estou, às vezes, deixando a mostra só como quero parecer. No momento, não penso em esconder nada. Não tenho forças para isso. Estou e pareço estar horrível. Bella trás a bandeja de cupcakes e sinto aquele cheiro.
Sempre amei cupcakes e fazia mamãe fazê-los azuis, um bom tempo atrás. Só eu comia os azuis. De blueberry. Quando o cheiro entra pelo meu nariz. Dou um pulo para fora da cama e consigo chegar no banheiro a tempo. Vomito muito, ajoelhada no chão. Sinto Bella segurar meus cabelos e tenho que lembrar de agradecê-la depois por isso.
Nem sabia que tinha comido tanta coisa. E como posso me sentir enjoada de uma hora para outra, é incrível. Me sinto tonta também e tudo o que eu quero é deitar e dormir.
Quem sabe não acordar nunca mais. É. Seria bom.

ENCERRADO

Posso escutar que alguém chega, mas estou impossibilitada de virar para olhar. E então aquele momento horrível termina. Ainda me sinto enjoada e tonta, ainda estou com aquele desejo de dormir e não acordar mais, mas então, de olhos fechados, posso sentir que alguém está me carregando. Essa pessoa sussurra, prometendo que vai ficar tudo bem e eu reconheço a voz. Abro os olhos e vejo Luke. Ele está me colocando na cama devagar e arrumando alguns travesseiros para eu ficar confortável. Eu estou observando-o. Não parece muito feliz, apresenta uma barba leve e continua lindo como sempre. E o cara mais legal do mundo. Não consigo acreditar que disse todas aquelas bobagens para ele. Vejo Bella empurrando-o para a parede e meio que brigando com ele. Quero dizer para ela parar, mas, em vez disso, fecho os olhos e durmo, vencida pela tontura e pelo enjoo.
Acordo, abrindo os olhos devagar. Me sinto bem melhor e mais disposta. Embora não possa nem pensar em cupcakes. Passo os olhos pelo quarto e encontro Luke sentado numa poltrona.
Desculpe-me por Bella.
Digo, em voz baixa. Sinto-me obrigada a fazer isso, porque conheço Bella e sei que ela pode ser bem inconveniente quando quer.
Obrigada por estar aqui. Eu... Eu sinto muito, Luke.
Minha voz simplesmente não consegue sair mais alta do que um sussurro. Haviam tantas coisas que eu queria dizer para ele, mas, agora, com ele na minha frente, parece que não vou conseguir falar. Não sem chorar, me arrepender e me sentir mais mal ainda.

A reação de Luke era o que mais me impressionava. Ele não parecia bravo comigo, triste talvez, mas não me tratava muito diferente do que quando estavamos juntos. Ele foi super querido comigo, perguntando se eu precisava de algo, ou se queria que ele saísse. Mas essas perguntas me abalam mais do que ele pudesse pensar.
Não... Eu só não queria que fosse assim... Não queria ter tanta atenção, você sabe que odeio isso. Não queria que olhassem para mim com pena ou algo assim. Não queria que falassem baixo uns com os outros depois que eu passasse por eles...
Desabafo. Chamo ele para mais perto e quando se senta na cama, eu abraço ele. Me sinto tão protegida assim. Parece que nossos corpos foram feitos para se encaixar um no outro. Parece que fomos feitos um para o outro. Quando penso nisso, percebo que devo algo para ele:
Desculpa, Lu. Eu te amo. Falei aquilo tudo porque... Porque eu tive medo. Eu não suportaria se você morresse... Eu... Eu...
Digo, tudo sussurrando, e começo a chorar baixinho.

Luke me promete que não vai morrer por enquanto, mas eu não acredito. Ele pareceu bem feliz quando disse que ainda amava-o. Acho que repetiria a cena do casamento, se nós voltássemos. Essa certeza me atingiu em cheio e eu não queria pensar em suas consequências.
Queria que aquele abraço não terminasse nunca, por isso, quando nos afastamos, limpei as lágrimas do rosto e deitei, puxando-o comigo. Na verdade, com a quantidade de travesseiros que haviam ali, ficamos meio sentados, meio deitados, um ao lado do outro. Encosto a minha cabeça em seu ombro e volto a falar baixo:
Eu te amo, Lu. Mas nós não podemos ficar juntos.
Vejo-o abrindo a boca para protestar, mas coloco um dedo em seus lábios.
É melhor assim. Pelo menos por enquanto. Talvez daqui um tempo nós possamos voltar, mas por enquanto não...
Volto a olhar só para frente, para o vazio, a cabeça ainda no ombro dele.
Quero que você me desculpe. Por tudo o que eu fiz. E quero que saiba que não vou deixar de pensar em você nem por um minuto. Prometa que não vai me esquecer, Luke. Por favor.
Depois ficamos por um tempo em silêncio. Não queria estragar o momento. Eu pensava em tudo o que havíamos passado juntos e tentava imaginar um futuro. Tentava gravar na memória o seu jeito, o seu cheiro, o jeito como mexia no meu cabelo, as roupas que estava usando, o cabelo meio despenteado, a barba rala, o jeito suave como suas mãos me tocavam, o abraço que tinha me dado, as coisas lindas que havia falado, o jeito como me entendia como ninguém e o jeito como ficou alegre quando lhe disse aquilo.
Eu... Eu preciso ficar sozinha. Você se importa de...?
Pergunto, quebrando o silêncio.

Quando ele sai, olho preocupada para a janela. Já tinha escurecido, mas acho que se eu fosse rápida ainda chegaria a tempo. Olho para porta e penso no que ele falou. Não posso negar que fiquei decepicionada por ele também não querer que reatássemos. Também não havia dito que me amava. Havia dado indícios claros, mas... Ah. Eu não podia esperar isso mesmo, porque o que eu havia feito... Não tem perdão. Esse pensamento só me deixava mais convicta do que eu iria fazer.
Levantei e comecei a procurar alguns papéis de carta que eu guardava no criado-mudo. Achei as folhas azuis e os envelopes. Sentei na cama e comecei a escrever, primeiro para minha mãe:

Carta para Lissa:

Peguei outro papel e escrevi para minha irmã:

Carta para Stevie:

Depois para Bella, que foi tão legal comigo:

Carta para Isabella:

Por fim, uma para ele:

Carta para Lucian:

Foi a menor de todas. Queria ter me despedido adequadamente. Um beijo talvez. Como vou sentir falta dos beijos dele e... Se começar a pensar, vou enlouquecer. Coloco-as em cima da minha cama, perfeitamente arrumada, e deixo meu celular, o teste de gravidez, o anel e a chave do guarda-roupa por ali. Olho uma última vez para o meu quarto e saio de casa.

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