Eu e Luke estávamos discutindo. Estes dias na casa dele estavam sendo terríveis para mim. Ficava enjoada o tempo inteiro, não comia direito, tomava toneladas de remédios fortes que só me faziam dormir e, às vezes, nem surtiam efeito, e deixava ele mais e mais preocupado. Ele dizia que eu tinha que melhorar, pelo bebê, que tinha que fazer um esforço para comer e achar algum ânimo na vida, por causa da saúde da criança, mas simplesmente não dava. Não dava para fazer nada disso. E os dias passavam, lentamente, e eu ficava mais e mais fraca. Luke era um fofo, trazia todos os tipos de comida para ver se eu me animava, trazia flores, até chegou a trazer roupas, mas eu não liguei para nada disso. Pelas minhas contas, eu já estava grávida de três meses, e já daria para ver o sexo da criança. Só que eu não queria saber, ainda não. O único motivo pelo qual eu saía da casa de Luke era para ir ao médico, uma vez por mês. E era por isso que estávamos discutindo naquela hora. Ele dizia que eu tinha que sair ao ar livre, mas eu estava recusando. Sei que, se ele continuasse a insistir, eu acabaria cedendo. Não aguentaria discutir muito. Mas o Comensal entrou, congelou Luke, me fez desmaiar e eu acordei em uma espécie de prisão, a tempo de ver meu pai. E seu olhar de nojo, quando o outro Comensal, que eu reconheci como o pai de Scorpius, disse que eu estava grávida. De repente senti medo. Pelo bebê. Ele seria bem capaz de machucar um pequeno inocente. Eu nunca vou deixá-lo encostar no meu filho. Me surpreendi com esse pensamento. E com o sentimento que me invadiu. Quando eles saíram, notei quem mais estava comigo na mesma cela. Victoire e Stevie. Mas não tivemos muito tempo para nada, outros Comensais chegaram, eram dois para cada uma de nós, e foi um pesadelo. Doía muito. Jogavam as Maldições Imperdoáveis, sem se preocuparem com nada. Victoire parecia aguentar bem, apesar de gritar muito, mas Stevie não gritava. Eu, porém, não conseguia ficar em pé, não conseguia parar de gritar, não conseguia parar de chorar, não conseguia parar de pensar no bebê. De repente, os Comensais deram um tempo. Saíram, avisando que iriam voltar. As lágrimas despencaram e eu chorei como nunca. Meu corpo não estava ajudando, eu estava bem ferida e não conseguia ficar de pé. Me sentia fraca como nunca. Olhei para Stevie e supliquei: Ste... Por favor... Ajuda... Eu não podia perder o bebê. Não o bebê. Por favor, não.
Nós chegamos na Central. Uau. Esse lugar é de mais, tomara que eu more aqui um dia. Depois de toda a tortura, que fingi sofrer, mas sem gritar, eles vão embora, só por um tempo, é claro. Depois voltarão. Esse anel e essa tornozeleira são tudo. Meu pai é um gênio. Não estava me preocupando muito com os outros, até Alice olhar para mim com aquela cara que ela faz muito bem de pena, mas que nunca funcionou para mim, e pede ajuda. Apesar de não gostar da notícia de estar grávida, ela é a Alice, e não quer perder o bebê de jeito nenhum. Penso por um tempo. Se eu desse o anel e a tornozeleira a ela, meu pai ia perceber e pensaria que eu sou uma fraca, e não posso deixar de arriscar meu futuro como Comensal por causa da minha irmã e de sua estúpida gravidez. Preciso achar um jeito... Ah, já sei. Ou o anel ou a tornozeleira funcionam, não os dois. Tudo bem. Mas cale a boca e não conte para ninguém, se não te mato. E certifique de estar usando a calça o tempo todo, sem levantar nem nada. Levanto um pouco a minha própria calça e tiro a tornozeleira. Na hora, começo a sentir dor. Pelos cortes, que virarão cicatrizes. Mas é um dor boa, ótima... Nunca deveria estar usando esse negócio em primeiro lugar. Coloco a joia ao redor do tornozelo dela, depois escondo com a calça. No mesmo momento, vejo alívio no rosto dela. Não me faça arrepender disso.
Alice Jessie Oloked Adulto
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Assunto: Re: Cela 002 Sex Mar 21, 2014 6:46 pm
A dor estava me consumindo, mas consigo ouvir vagamente Stevie me mandando não contar nada e usar a calça o tempo inteiro. Não entendo muito, meus olhos já estavam se fechando e eu tinha a certeza de que iria desmaiar. Então, sinto algo gelado no meu tornozelo e a dor passa. Não completamente, mas dá uma boa amenizada. Olho para Ste enquanto ela fala para mim não fazê-la se arrepender disso. Então, apesar de tudo, do local em que estávamos, do estado em que minha vida se encontra, do bebê, eu penso em como quero minha irmã de volta. Aquela com quem eu podia conversar e que era muito diferente dessa de agora... Olho para meu tornozelo, levanto a calça, e vejo ali uma joia. Linda. Simples. E, pelo jeito, muito poderosa. De repente sou tomada pelo meio e olho para Vic, que dividia a cela conosco, mas ela está muito distraída, com suas próprias dores, para reparar em nós. Deve ser muito difícil para ela reviver todo esse pesadelo. Quase pergunto para Stevie com quem ela arranjou aquela joia, mas percebo que já sei a resposta: Dimitri. O cara que devia ser o nosso pai. Eu realmente tenho sorte de ter alguém como Luke na vida, e dele ser o pai do meu filho, mais ninguém. Sento na cama vazia e fico perdida em pensamentos. Até os Comensais voltarem e a tortura recomeçar, mas, desta vez, um pouco menos dolorosa.